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Reconfigurações do Masculino: Da Hegemonia à Masculinidade Relacional-Integrativa – Perspectivas para o Combate à Violência Doméstica ou de Gênero



RESUMO: A contemporaneidade é marcada por profundas transformações sociais e culturais que impulsionam uma reavaliação crítica das construções de gênero, especialmente da masculinidade. Este ensaio sintetiza e aprofunda a discussão sobre a evolução das masculinidades, partindo da crítica à masculinidade hegemônica de Raewyn Connell até a proposição de um modelo de Masculinidade Relacional-Integrativa (MRI). Nossa proposta reconhece a masculinidade como um construto social dinâmico, influenciado por interseções de raça, classe, sexualidade e contexto histórico, e denuncia os custos da hegemonia, como a "alexitimia normativa" (LAMB, 2010) e a "revolução estagnada" no cuidado doméstico (HOCHSCHILD, 1989, 1997). Integrando perspectivas de Michael Kimmel (2017), bell hooks (2004), Pierre Bourdieu (2002), Michel Foucault (1988), Nancy Fraser (1997), Axel Honneth (2005), Carol Gilligan (1982), Joan Tronto (2013) e autores brasileiros como Berenice Bento, Guthierre Barbosa Silva Prado, Guilherme Almeida, Richard Miskolci, Claudia Fonseca e Mirian Goldenberg, a MRI erige-se sobre três pilares: Ética do Cuidado, Dissociação entre Potência e Violência, e Interdependência. São exploradas as implicações práticas e políticas dessa reconfiguração, abrangendo educação, saúde, violência de gênero, políticas públicas, mídia e ambiente de trabalho, sempre sob uma ótica interseccional que considera raça, classe, sexualidade e transmasculinidades. A abordagem é sustentada por evidências empíricas e dialoga com o arcabouço legal brasileiro, como a Lei Maria da Penha e a Lei nº 15.240/25. O objetivo é fomentar uma compreensão mais complexa e humanizada das masculinidades, promovendo modelos mais equitativos e saudáveis para indivíduos e sociedade, e, por consequência, oferecer perspectivas teóricas e práticas para o combate efetivo à violência doméstica ou de gênero, promovendo uma cultura de respeito e alteridade.


PALAVRAS-CHAVE: Masculinidades, Masculinidade Hegemônica, Masculinidade Relacional-Integrativa, Gênero, Interseccionalidade, Ética do Cuidado, Políticas Públicas, Feminicídio.


1 INTRODUÇÃO

A compreensão da masculinidade tem sido, ao longo da história, um campo fértil para a sociologia, a psicologia e os estudos de gênero. Tradicionalmente associada a atributos como força, racionalidade, autonomia e, por vezes, agressividade, a masculinidade tem sido moldada por contextos sociais, econômicos e culturais específicos. No entanto, a contemporaneidade, marcada por profundas transformações sociais, tecnológicas e políticas, impulsiona uma reavaliação crítica dessas construções. Este ensaio propõe uma jornada analítica que parte da crítica à masculinidade hegemônica, conceito central na obra de Raewyn Connell (1995), para então explorar teorias alternativas e, finalmente, apresentar a proposição de um modelo de Masculinidade Relacional-Integrativa (MRI).


A masculinidade, longe de ser uma essência fixa, é um construto social dinâmico, influenciado por interseções complexas de raça, classe, sexualidade e contexto histórico (CRENSHAW, 1989; COLLINS, 2000). A hegemonia, ao impor um modelo idealizado e muitas vezes inatingível de ser homem, gera custos significativos não apenas para as mulheres e outras masculinidades subalternizadas, mas também para os próprios homens, manifestando-se em fenômenos como a alexitimia normativa(1) (LAMB, 2010) e a estagnação na divisão do trabalho de cuidado (HOCHSCHILD, 1989, 1997).


Este ensaio busca integrar diversas perspectivas teóricas – de Michael Kimmel (2017) a bell hooks (2004), de Pierre Bourdieu (2002) a Michel Foucault (1988), e de Nancy Fraser (1997) a Axel Honneth (2005) – com as contribuições de Carol Gilligan (1982) e Joan Tronto (2013) sobre a ética do cuidado. Ao fazer isso, almeja-se construir um arcabouço teórico que não apenas critique os modelos existentes, mas que também ofereça um caminho propositivo para a construção de masculinidades mais equitativas, empáticas e saudáveis. Serão exploradas as implicações práticas e políticas dessa reconfiguração em diversas esferas da vida social, sempre sob uma ótica interseccional que reconhece a pluralidade das experiências masculinas, incluindo as transmasculinidades (ALMEIDA, 2010; BENTO, 2017).


O objetivo final é fomentar uma compreensão mais complexa e humanizada das masculinidades, promovendo modelos que beneficiem indivíduos e a sociedade como um todo, e, por consequência, oferecer perspectivas teóricas e práticas para o combate efetivo à violência doméstica ou de gênero, promovendo uma cultura de respeito e alteridade.


1- Alexitimia normativa refere-se à expectativa cultural e social de que os homens reprimam ou tenham dificuldade em identificar e expressar suas emoções, em conformidade com ideais de masculinidade que valorizam a racionalidade e a invulnerabilidade emocional.


Notas Metodológicas

A construção deste ensaio fundamenta-se em uma abordagem teórica interdisciplinar, dialogando com campos como os estudos de gênero, sociologia, psicologia social e economia. A escolha por uma revisão crítica da literatura visa não apenas sintetizar o conhecimento existente, mas também propor uma nova lente analítica para as masculinidades. A metodologia empregada envolveu a identificação de conceitos-chave, a análise de suas aplicações e limitações, e a articulação de novas proposições teóricas. A seleção das referências buscou abranger autores clássicos e contemporâneos que contribuem para uma compreensão multifacetada das masculinidades, com especial atenção à verificação da autenticidade e adequação de cada citação para garantir a solidez do embasamento teórico.


2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

A análise das masculinidades exige uma base teórica sólida que reconheça a complexidade do gênero como categoria social. A sociologia de gênero, desde seus primórdios, tem desafiado a noção de que as diferenças entre homens e mulheres são meramente biológicas, enfatizando o papel das construções sociais e culturais. Michel Foucault (1988), com sua análise sobre o poder e a sexualidade, demonstrou como as identidades de gênero são produzidas e reguladas por discursos e práticas sociais. Pierre Bourdieu (2002), por sua vez, introduziu o conceito de "habitus" e violência simbólica para explicar como as estruturas de dominação de gênero são internalizadas e reproduzidas, tornando-se quase imperceptíveis.


A interseccionalidade (2), conceito cunhado por Kimberlé Crenshaw (1989) e aprofundado por Patricia Hill Collins (2000), é fundamental para compreender que a experiência da masculinidade não é monolítica. Homens negros, homens de classes sociais desfavorecidas, homens gays ou transmasculinos vivenciam a masculinidade de maneiras distintas, atravessadas por sistemas de opressão e privilégio que se entrecruzam. Assim, a masculinidade não pode ser analisada isoladamente, mas sempre em sua relação com raça, classe, sexualidade, nacionalidade e outras categorias sociais.


A teoria do reconhecimento de Axel Honneth (1995) oferece uma lente para entender as lutas por dignidade e respeito que permeiam as relações de gênero. A negação do reconhecimento pode levar à desvalorização e à violência, enquanto o reconhecimento mútuo é essencial para a formação de identidades saudáveis e relações equitativas.


Complementarmente, Nancy Fraser (1997) expande essa discussão ao abordar a justiça como uma questão de redistribuição (econômica), reconhecimento (cultural) e representação (política), elementos cruciais para qualquer projeto de reconfiguração das masculinidades que busque a equidade.


2- A interseccionalidade é uma lente analítica que permite compreender como diferentes categorias sociais (raça, classe, gênero, sexualidade, etc.) se cruzam e interagem, produzindo sistemas de opressão e privilégio que não podem ser entendidos isoladamente.


3 CRÍTICA À MASCULINIDADE HEGEMÔNICA

O conceito de masculinidade hegemônica, desenvolvido por Raewyn Connell (1995), tornou-se um pilar nos estudos de gênero. Ele descreve a forma dominante de masculinidade em uma dada sociedade, que não é necessariamente a mais comum, mas aquela que legitima a subordinação das mulheres e de outras masculinidades (subordinadas ou marginalizadas). Essa masculinidade é caracterizada por atributos como a aversão à feminilidade, a busca por poder, a competitividade, a repressão emocional e a autossuficiência.


A crítica à masculinidade hegemônica reside em diversos pontos. Primeiramente, ela impõe um modelo rígido e muitas vezes inatingível, gerando sofrimento psíquico para os homens que não se encaixam nesse ideal. A "alexitimia normativa", a dificuldade em expressar emoções, é um custo direto dessa imposição, levando a problemas de saúde mental e relacionamentos disfuncionais (LAMB, 2010; WONG et al., 2017). Em segundo lugar, ela perpetua a dominação masculina e a violência de gênero, ao associar a virilidade ao controle e à agressão (BOURDIEU, 2002; SAFFIOTI, 2004).


Michael Kimmel (2017) argumenta que a masculinidade hegemônica é, em grande parte, uma “homofobia internalizada”, em que o medo de ser percebido como “não-homem” ou “feminino” leva à conformidade com normas opressivas. bell hooks (2004) complementa essa visão ao analisar como a masculinidade negra, embora subalternizada pela hegemonia branca, pode reproduzir internamente padrões patriarcais.


Apesar de sua relevância, o conceito de masculinidade hegemônica também recebeu críticas. Demetrakis Demetriou (2001) apontou para a necessidade de maior clareza sobre como a hegemonia é construída e mantida, e como ela se relaciona com as práticas masculinas cotidianas. No entanto, a força do conceito reside em sua capacidade de desnaturalizar a masculinidade, revelando-a como uma construção social com consequências políticas e sociais profundas.


4 REVISÃO DE TEORIAS ALTERNATIVAS

A insatisfação com os modelos hegemônicos de masculinidade impulsionou o desenvolvimento de teorias alternativas que buscam desconstruir e reconstruir o masculino.

Uma das abordagens mais influentes é a da Ética do Cuidado, formulada por Carol Gilligan (1982) e expandida por Joan Tronto (1993, 2013). Gilligan, ao criticar a primazia da ética da justiça (associada a um pensamento masculino) na psicologia moral, propôs uma ética baseada na interconexão, na responsabilidade e na atenção às necessidades dos outros. Tronto (2013) levou essa ética para a esfera política, argumentando que o cuidado é uma atividade essencial para a manutenção da vida e da sociedade, e que sua desvalorização está ligada a hierarquias de gênero, raça e classe.


Outras teorias focam na pluralidade das masculinidades. Richard Miskolci (2017) explora as masculinidades na era digital, mostrando como as redes sociais podem tanto reproduzir quanto subverter padrões tradicionais. Guilherme Almeida (2010) e Berenice Bento (2017) contribuem com os estudos sobre transmasculinidades, revelando a complexidade da identidade de gênero e a fluidez das fronteiras do masculino. Esses estudos desafiam a ideia de uma masculinidade única, evidenciando a diversidade de experiências e expressões.


A crítica à violência como componente da masculinidade também é central. Autores como Rita Laura Segato (2003) e Heleieth Saffioti (2004) analisam as raízes estruturais da violência de gênero, mostrando como ela está intrinsecamente ligada a uma concepção de masculinidade que associa poder e controle à agressão. A desconstrução dessa associação é um passo fundamental para a promoção de masculinidades não-violentas.


A neurobiologia do apego (FELDMAN, 2017) e a biologia moral (ZAK, 2012) oferecem perspectivas complementares, sugerindo que a capacidade de empatia e cuidado tem bases biológicas, desafiando a noção de que a agressividade é uma característica inata e exclusiva do masculino. Essas abordagens abrem caminho para uma compreensão mais integrada do ser humano, onde o cuidado e a interconexão são vistos como aspectos fundamentais da experiência humana, independentemente do gênero.


5 PROPOSTA: MASCULINIDADE RELACIONAL-INTEGRATIVA (MRI)

A Masculinidade Relacional-Integrativa (MRI) surge como uma proposição teórica e prática que busca transcender as limitações da masculinidade hegemônica, incorporando as contribuições das teorias alternativas e promovendo um modelo mais equitativo, saudável e sustentável de ser homem. A MRI se estrutura em três pilares fundamentais:


  1. Ética do Cuidado: Inspirada em Carol Gilligan (1982) e Joan Tronto (2013), este pilar enfatiza a valorização do cuidado como uma prática central da masculinidade. Isso implica desenvolver a empatia, a responsabilidade para com os outros e a capacidade de reconhecer e responder às necessidades alheias. O cuidado é entendido não como uma fraqueza ou uma tarefa feminina, mas como uma força essencial para a construção de relações interpessoais e sociais saudáveis. A MRI desafia a "alexitimia normativa" (LAMB, 2010), encorajando a expressão emocional e a vulnerabilidade como aspectos legítimos da experiência masculina.

  2. Dissociação entre Potência e Violência: Este pilar busca desvincular a ideia de potência masculina da capacidade de dominar, controlar ou agredir. A potência é ressignificada como a capacidade de agir de forma construtiva, de liderar com integridade, de proteger e de criar, sem recorrer à violência física, psicológica ou simbólica. Reconhece-se que a violência é uma manifestação de insegurança e de uma masculinidade tóxica (SAFFIOTI, 2004; SEGATO, 2003), e não um atributo inerente à força masculina. A MRI promove a resolução pacífica de conflitos e o respeito à autonomia e integridade do outro (ARENDT, 1970; LÉVINAS, 1961).

  3. Interdependência: Contrariando o ideal de autossuficiência da masculinidade hegemônica, este pilar valoriza a interconexão e a dependência mútua entre os seres humanos. Reconhece-se que ninguém é uma ilha e que as relações sociais são fundamentais para o bem-estar individual e coletivo. A interdependência implica em buscar apoio, oferecer ajuda, colaborar e construir redes de solidariedade. Isso se alinha com a neurobiologia do apego (FELDMAN, 2017) e a compreensão de que a conexão social é vital para a saúde mental e emocional. A MRI encoraja os homens a se engajarem ativamente no cuidado doméstico e parental, desafiando a “revolução estagnada” (do inglês "stalled revolution") (HOCHSCHILD, 1989, 1997).


A MRI, ao integrar esses pilares, propõe uma masculinidade que é relacional (construída nas interações com os outros), integrativa (incorporando diversas dimensões do ser humano) e interseccional (sensível às diferentes experiências de raça, classe, sexualidade e identidade de gênero).


6 IMPLICAÇÕES PRÁTICAS E POLÍTICAS

A adoção da Masculinidade Relacional-Integrativa (MRI) acarreta profundas implicações práticas e políticas em diversas esferas sociais:


  • Educação: A promoção da MRI na educação implica a revisão de currículos para incluir discussões sobre gênero, emoções, consentimento e não-violência desde a primeira infância. Escolas podem se tornar espaços para desconstruir estereótipos de gênero, incentivando meninos a expressar sentimentos, a participar de atividades tradicionalmente femininas e a desenvolver habilidades de cuidado e empatia. A formação de professores é crucial para que possam mediar essas discussões de forma eficaz.

  • Saúde: A "alexitimia normativa" e a repressão emocional associadas à masculinidade hegemônica contribuem para que homens busquem menos ajuda médica e psicológica. A MRI incentiva uma abordagem proativa à saúde mental e física, desestigmatizando a vulnerabilidade e a busca por apoio. Campanhas de saúde pública podem focar na promoção de autocuidado, na expressão emocional e na construção de redes de apoio social para homens.

  • Violência Doméstica ou de Gênero: A reconfiguração da masculinidade é um pilar fundamental na prevenção da violência doméstica ou de gênero. Ao dissociar potência de violência, a MRI atua na raiz do problema, promovendo modelos de masculinidade que valorizam o respeito, a igualdade e a não-agressão. Programas de reeducação para homens autores de violência (BRASIL, Lei nº 13.984, de 2020; BEIRAS; TONELI, 2018) podem ser reformulados para incorporar os princípios da MRI, focando na empatia, na responsabilidade e na construção de relações saudáveis.

  • Políticas Públicas: As políticas públicas devem ser desenhadas para apoiar a transição para masculinidades mais equitativas. Isso inclui licenças parentais mais longas e equitativas para pais, incentivos para a participação masculina em profissões de cuidado, e programas de conscientização sobre a importância da paternidade ativa e do cuidado compartilhado. A legislação de combate ao abandono afetivo (BRASIL, Lei nº 15.240, de 2025) e a proteção contra a violência doméstica (BRASIL, Lei nº 11.340, de 2006) são exemplos de marcos que podem ser fortalecidos por uma compreensão mais ampla da masculinidade.

  • Mídia e Cultura: A mídia desempenha um papel crucial na construção e desconstrução de estereótipos de gênero. A promoção de representações diversas e positivas de masculinidades na televisão, cinema, publicidade e redes sociais pode acelerar a aceitação de modelos mais flexíveis e empáticos. A cultura popular pode celebrar homens que expressam emoções, que cuidam de seus filhos e que desafiam as normas tradicionais de virilidade.

  • Ambiente de Trabalho: A MRI pode transformar o ambiente de trabalho, promovendo culturas organizacionais que valorizam a colaboração, a empatia e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Isso implica desafiar a cultura dos “trabalhos gulosos” (GOLDIN, 2021), que penaliza o cuidado e a flexibilidade, e promover a participação masculina em funções de cuidado e gestão de pessoas.


A implementação dessas implicações requer uma abordagem interseccional, reconhecendo que as experiências e os desafios variam significativamente entre homens de diferentes raças, classes sociais, sexualidades e identidades de gênero (CURRY, 2003; PRADO, 2015).


7 O NOVO MARCO LEGAL BRASILEIRO: LEI 15.240/25 E O ABANDONO AFETIVO

O cenário jurídico brasileiro tem evoluído para reconhecer e penalizar formas de negligência e violência que antes eram invisibilizadas. A Lei nº 15.240/25, que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, Lei nº 8.069, de 1990) para caracterizar o abandono afetivo como ilícito civil, representa um avanço significativo nesse contexto. A existência de tal iniciativa legislativa reflete uma crescente conscientização sobre a importância do cuidado e da responsabilidade parental, elementos centrais para a construção de masculinidades mais relacionais e integrativas.


O abandono afetivo, ao ser reconhecido como ilícito, não apenas busca reparar danos psicológicos e emocionais sofridos por crianças e adolescentes, mas também envia uma mensagem clara à sociedade sobre a corresponsabilidade parental e a essencialidade da presença e do afeto na formação dos indivíduos. Para a Masculinidade Relacional-Integrativa (MRI), essa lei é um catalisador. Ela desafia diretamente a noção de que o papel masculino se restringe ao provimento material, sem a necessidade de envolvimento emocional e afetivo. Ao contrário, a lei reforça a ideia de que o cuidado, a presença e o afeto são componentes indissociáveis de uma paternidade responsável e de uma masculinidade saudável.


A Lei nº 15.240/25 pode atuar como um instrumento de política pública que incentiva os homens a se engajarem mais ativamente na vida de seus filhos, não apenas financeiramente, mas também emocionalmente. Isso contribui para desconstruir a alexitimia normativa (LAMB, 2010) e a “revolução estagnada” no cuidado doméstico (HOCHSCHILD, 1989, 1997), promovendo uma maior participação masculina nas esferas do cuidado e da criação, alinhando-se diretamente com os pilares da Ética do Cuidado e da Interdependência da MRI.


A reconfiguração do masculino, especialmente a transição de modelos hegemônicos para a Masculinidade Relacional-Integrativa (MRI), apresenta-se como uma hipótese promissora para a diminuição do número de feminicídios no Brasil. A tese central reside na compreensão de que o feminicídio é a expressão máxima de uma masculinidade tóxica, enraizada no machismo estrutural e na cultura da posse e do controle sobre o corpo e a vida das mulheres (SAFFIOTI, 2004; SEGATO, 2003). A masculinidade hegemônica, ao associar virilidade à dominação, à agressão e à negação da autonomia feminina, cria um terreno fértil para a violência letal.


Novas configurações do masculino, pautadas em valores como a empatia, o respeito à alteridade, a valorização do cuidado e a não-violência, poderiam impactar significativamente os fatores de risco para o feminicídio. Homens que internalizam esses valores tendem a rejeitar a posse e o controle como elementos de um relacionamento, promovendo relações mais saudáveis e equitativas. A desconstrução da ideia de que a mulher é uma propriedade ou um objeto a ser controlado é fundamental para erradicar a violência de gênero em sua forma mais extrema.


Evidências e Mecanismos:

Estudos e dados estatísticos corroboram a inferência causal proposta. O Atlas da Violência 2024 (CERQUEIRA et al., 2024) e relatórios do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP, 2024) consistentemente apontam que a maioria dos feminicídios ocorre em contextos de violência doméstica e familiar, perpetrados por parceiros ou ex-parceiros íntimos. Isso sublinha a dimensão relacional e de controle que permeia esses crimes.


A reconfiguração do masculino operaria por diversos mecanismos:


  • Redução da Posse, Controle e Violência: Ao internalizar os pilares da MRI, homens desaprendem a associar masculinidade à dominação. A Ética do Cuidado e a Interdependência promovem a valorização da parceira como um ser autônomo e igual, reduzindo a necessidade de controle e, consequentemente, a escalada da violência.

  • Promoção de Relações Mais Saudáveis: A capacidade de expressar emoções, de dialogar e de resolver conflitos de forma não-violenta, incentivada pela MRI, leva à construção de relacionamentos baseados no respeito mútuo e na parceria, diminuindo a probabilidade de desfechos violentos.

  • Desconstrução de Normas Sociais Violentas: A mudança individual se reflete no coletivo. À medida que mais homens adotam masculinidades não-hegemônicas, as normas sociais que legitimam a violência contra a mulher são enfraquecidas, criando um ambiente cultural menos permissivo ao machismo.


Desafios e Limitações:

Apesar do potencial transformador, a reconfiguração do masculino enfrenta desafios consideráveis. A cultura machista é profundamente arraigada no Brasil, e a resistência a mudanças é forte. A efetividade dessa reconfiguração em reduzir o feminicídio depende de:


  • Escala e Abrangência: Atingir um número significativo de homens e promover uma mudança cultural ampla exige investimentos massivos em educação, campanhas de conscientização e programas de intervenção.

  • Programas de Reeducação: A Lei nº 13.984, de 2020 (BRASIL, 2020), que prevê a inclusão de homens autores de violência doméstica em programas de reeducação, é um passo importante. No entanto, a eficácia desses programas depende de sua qualidade, da adesão dos participantes e de uma abordagem que vá além da punição, focando na ressignificação da masculinidade (BEIRAS; TONELI, 2018).

  • Interseccionalidade: A reconfiguração deve considerar as especificidades de diferentes grupos de homens, pois a masculinidade é vivida de forma distinta em contextos de raça, classe e sexualidade (PRADO, 2015; CURRY, 2003).

  • Políticas Públicas Integradas: A redução do feminicídio não pode depender apenas da mudança individual. É fundamental que haja um arcabouço de políticas públicas robustas que protejam as vítimas, punam os agressores e promovam a equidade de gênero em todas as esferas.


A reconfiguração do masculino, portanto, não é uma panaceia, mas uma estratégia essencial e complementar a outras ações de combate ao feminicídio. Ela atua na dimensão cultural e comportamental, buscando transformar as raízes da violência de gênero ao promover uma masculinidade que valoriza a vida, o respeito e a alteridade.


9 A ECONOMIA DO CUIDADO NA AGENDA GLOBAL (G20)

A Economia do Cuidado, tradicionalmente invisibilizada e desvalorizada, tem ganhado crescente reconhecimento na agenda global, inclusive em fóruns de alta relevância como o G20. Essa mudança reflete uma compreensão mais aprofundada de que o trabalho de cuidado – que abrange desde o cuidado infantil e de idosos até as tarefas domésticas e o suporte emocional – é fundamental para o funcionamento das sociedades e das economias. Historicamente, esse trabalho tem sido desproporcionalmente atribuído às mulheres, de forma não remunerada ou sub-remunerada, perpetuando desigualdades de gênero e limitando a participação feminina no mercado de trabalho formal.


A inclusão da Economia do Cuidado nas discussões do G20, como observado em documentos e declarações recentes (G20, 2024), sinaliza um movimento em direção ao reconhecimento de seu valor econômico e social. Isso implica em:


  • Investimento em Infraestrutura de Cuidado: Políticas que visam expandir e melhorar serviços de cuidado acessíveis e de qualidade (creches, casas de repouso, serviços de saúde domiciliar) são cruciais.

  • Valorização do Trabalho de Cuidado: Reconhecer e remunerar adequadamente os profissionais do cuidado, que são majoritariamente mulheres, é um passo essencial para a justiça de gênero.

  • Redistribuição do Cuidado: Promover a corresponsabilidade entre homens e mulheres no trabalho de cuidado, tanto no âmbito familiar quanto no social. Isso se alinha diretamente com os princípios da Masculinidade Relacional-Integrativa (MRI), que incentiva a interdependência e a ética do cuidado como valores masculinos.


A discussão no G20 sobre a Economia do Cuidado não é apenas uma questão de justiça social, mas também de eficiência econômica. Ao aliviar a carga de cuidado sobre as mulheres, permite-se sua maior participação na força de trabalho, impulsionando o crescimento econômico e reduzindo a pobreza. Para a MRI, a agenda do G20 oferece um contexto global para legitimar e institucionalizar a participação masculina no cuidado, desafiando a “revolução estagnada” (HOCHSCHILD, 1989, 1997) e promovendo uma redefinição mais equitativa dos papéis de gênero.


10 CONTRIBUIÇÕES DE CLAUDIA GOLDIN: "TRABALHOS GULOSOS" E EQUIDADE

A pesquisa de Claudia Goldin, laureada com o Prêmio Nobel de Economia em 2023, oferece insights cruciais para a compreensão das desigualdades de gênero no mercado de trabalho e sua relação com as masculinidades. Goldin (2021) introduziu o conceito de “trabalhos gananciosos” (greedy jobs) para descrever ocupações que exigem longas horas de trabalho, flexibilidade limitada e disponibilidade constante, geralmente com remunerações mais altas. Esses trabalhos, ao penalizarem a flexibilidade e o tempo dedicado ao cuidado, criam uma barreira significativa para a equidade de gênero.


A contribuição de Goldin revela que a persistência da lacuna salarial de gênero, mesmo em profissões de alta qualificação, não se deve apenas à discriminação direta ou a diferenças de produtividade, mas principalmente à forma como o mercado de trabalho está estruturado em torno desses “trabalhos gananciosos”. Como as mulheres ainda assumem a maior parte do trabalho de cuidado não remunerado (HOCHSCHILD, 1989, 1997), elas são desproporcionalmente penalizadas por não conseguirem se dedicar integralmente a esses trabalhos, ou por optarem por carreiras mais flexíveis, mas com menor remuneração.


Para a Masculinidade Relacional-Integrativa (MRI), a análise de Goldin é fundamental. Ela demonstra como a masculinidade hegemônica, que valoriza a dedicação exclusiva ao trabalho e a provisão material em detrimento do cuidado, é reforçada por essa estrutura de “trabalhos gananciosos”. A MRI, ao promover a interdependência e a ética do cuidado, desafia os homens a reavaliar suas prioridades e a buscar um equilíbrio entre carreira e vida pessoal, incluindo o engajamento no cuidado.


A equidade de gênero, portanto, não será plenamente alcançada apenas com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, mas também com a reconfiguração das expectativas masculinas e das estruturas de trabalho. Isso implica em:


  • Redesenho dos “Trabalhos Gulosos”: Empresas e políticas públicas devem buscar formas de tornar os trabalhos de alta remuneração mais flexíveis e menos “gananciosos”, permitindo que tanto homens quanto mulheres possam conciliar carreira e cuidado.

  • Valorização do Cuidado Masculino: A sociedade precisa valorizar e incentivar a participação masculina no cuidado, desassociando-o da feminilidade e reconhecendo-o como uma responsabilidade compartilhada.

  • Políticas de Licença Parental: Ações como licenças parentais equitativas e não transferíveis para pais são cruciais para normalizar a participação masculina no cuidado e desafiar a ideia de que o cuidado é primariamente uma responsabilidade feminina.


A pesquisa de Goldin, ao expor as raízes estruturais da desigualdade de gênero no trabalho, reforça a necessidade de uma transformação cultural profunda nas masculinidades, alinhada com os princípios da MRI, para que a equidade se torne uma realidade.


11 LIMITAÇÕES E DIREÇÕES FUTURAS

A proposição da Masculinidade Relacional-Integrativa (MRI), embora promissora, não está isenta de limitações e desafios. Primeiramente, a transição de modelos hegemônicos para uma masculinidade mais equitativa é um processo complexo e de longo prazo, que enfrenta resistências culturais, sociais e individuais profundamente arraigadas. A desconstrução de séculos de patriarcado e de normas de gênero exige mais do que apenas a conscientização; requer mudanças estruturais e institucionais significativas.


Uma limitação importante reside na dificuldade de mensurar o impacto direto da reconfiguração das masculinidades em fenômenos como a redução do feminicídio ou o aumento da equidade no cuidado. Embora existam evidências correlacionais e estudos qualitativos que apontam nessa direção, estabelecer uma inferência causal direta e quantificável é um desafio metodológico.


Além disso, a MRI, como qualquer modelo teórico, pode ser interpretada e aplicada de maneiras diversas, correndo o risco de ser cooptada ou esvaziada de seu potencial transformador. É crucial que a promoção da MRI seja sempre acompanhada de uma análise interseccional rigorosa, que reconheça as especificidades das experiências masculinas em diferentes contextos de raça, classe, sexualidade e identidade de gênero. A universalização de um modelo, mesmo que bem-intencionado, pode negligenciar as particularidades e as lutas de grupos marginalizados.


Para o futuro, as direções de pesquisa e ação devem incluir:


  • Estudos Longitudinais: Acompanhamento de grupos de homens que participam de programas de reeducação ou de grupos reflexivos para avaliar a efetividade da mudança de comportamento e atitudes ao longo do tempo.

  • Pesquisa Qualitativa Aprofundada: Entrevistas e etnografias para compreender as experiências subjetivas dos homens na transição para masculinidades mais relacionais, identificando barreiras e facilitadores.

  • Avaliação de Políticas Públicas: Análise do impacto de leis como a Lei nº 15.240/25 e programas de licença parental na reconfiguração dos papéis de gênero e na promoção da MRI.

  • Engajamento de Homens em Movimentos Feministas: Investigar como homens podem ser aliados efetivos na luta pela equidade de gênero, sem reproduzir dinâmicas de poder ou invisibilizar as vozes femininas.

  • Análise Transnacional: Comparar as experiências de reconfiguração das masculinidades em diferentes contextos culturais e políticos, identificando boas práticas e desafios comuns.


Apesar das limitações, a proposição da MRI oferece um arcabouço conceitual robusto para guiar esforços de pesquisa, educação e intervenção, visando a construção de um futuro mais equitativo e justo para todos os gêneros.


CONCLUSÃO

A jornada analítica empreendida neste ensaio revela a complexidade e a urgência de reavaliar as construções de masculinidade na contemporaneidade. Partindo da crítica à masculinidade hegemônica, que impõe custos severos tanto aos homens quanto à sociedade, e integrando diversas perspectivas teóricas, propôs-se a Masculinidade Relacional-Integrativa (MRI). Este modelo, fundamentado na Ética do Cuidado, na Dissociação entre Potência e Violência, e na Interdependência, oferece um caminho promissor para a construção de masculinidades mais equitativas, empáticas e saudáveis.

As implicações práticas e políticas da MRI são vastas, abrangendo desde a educação e a saúde até a prevenção da violência de gênero, o ambiente de trabalho e a formulação de políticas públicas. A integração de marcos legais como a Lei nº 15.240/25, que aborda o abandono afetivo, e a crescente valorização da Economia do Cuidado em fóruns globais como o G20, juntamente com as contribuições de Claudia Goldin sobre os “trabalhos gananciosos”, reforçam a necessidade e a viabilidade de uma reconfiguração profunda dos papéis de gênero.


A hipótese de que a reconfiguração do masculino pode contribuir significativamente para a mitigação do feminicídio, ao desvincular a masculinidade da posse e do controle e promover a alteridade, é um dos pontos centrais desta discussão. Embora os desafios sejam consideráveis, a evidência aponta para a necessidade de investir em programas de reeducação, em políticas públicas integradas e em uma mudança cultural que desconstrua as normas sociais violentas.


Em suma, a transição para a Masculinidade Relacional-Integrativa não é apenas um imperativo ético, mas uma estratégia essencial para a construção de uma sociedade mais justa, segura e equitativa para todos. As direções futuras de pesquisa e ação devem continuar a aprofundar essa compreensão, buscando formas eficazes de traduzir os princípios da MRI em transformações sociais concretas e duradouras.


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